Hoje celebramos a “Epifania do Senhor”, isto é, o episódio em que Magos, guiados por uma estrela, vieram do Oriente para adorar Jesus.
A tradição identifica estes Magos como reis sábios. De fato, algumas traduções da Bíblia substituem "Magos do Oriente" por "Sábios do Oriente". Os magos, na antiguidade, eram estudiosos que viam os astros como sinais do mundo superior para orientar a turbulenta e, às vezes, incompreensível vida do homem.
Por outro lado, a sabedoria era considerada como o principal atributo daquele que deveria governar uma sociedade. Daí a expressão “Reis Magos”. Tanto é assim que, na República, Platão conclui que a pessoa mais apta para governar a cidade é o “Rei-Filósofo”, pois só o sábio, possuindo uma visão profunda e ampla de toda a realidade e do que é a essência da justiça, pode dar a cada um o que lhe corresponde.
Outro detalhe muito interessante nessa passagem bíblica, é o fato de que, orientados por uma estrela, os Sábios do Oriente encontraram e contemplaram o Cristo. E aqui, mais uma vez, Platão pode nos ajudar a entender o simbolismo que está por detrás dessa narrativa.
No Teeteto, o filósofo é interpretado como um “admirador das estrelas”. Alguém que se volta para o conhecimento das coisas mais elevadas, isto é, das causas últimas da experiência sensível. O próprio Santo Tomás, ao tratar do problema filosófico da geração e da corrupção, afirma que “o sol e o homem geram o homem”. Em outros termos, não há uma única ordem de causas que explica a realidade, mas uma hierarquia de causas que, em última análise, remonta ao princípio último de tudo quanto existe: Deus.
“Admirar as estrelas” simboliza não somente o que faz o filósofo, mas significa também o princípio e o mesmo fim da filosofia. Aristóteles na Metafísica (I, 2) afirma que “no princípio, os homens começaram a filosofar por causa da admiração (thauma) na medida em que ficavam perplexos diante das coisas que não são compreendidas (aporia) [...].
“Thauma” é uma palavra grega emparentada com o verbo ver (theaomai) e com o verbo contemplar (theoreo). O princípio da filosofia está ligado a uma experiência contemplativa em que conhecemos ou vemos com os olhos da mente algo que nos gera espanto e admiração, nos impelindo em uma jornada para compreender, também de modo contemplativo, a razão última de nossa experiência.
Hoje, por vivermos nas grandes cidades, nos esquecemos de que, ao longo de toda a história humana, a contemplação de um céu estrelado, de uma montanha imponente ou de um mar imenso são as experiências que mais causam espanto e admiração no homem, incitando em seu coração um desejo de satisfazer sua razão na comprensão do que experimenta.
Esse caminho filosófico está perfeitamente representado na passagem dos Reis Magos: eles iniciaram sua jornada por causa do espanto e da admiração por aquela nova estrela e a concluíram com a contemplação do Logos Encarnado.
Eis aqui a Via filosófica dos Reis Magos que nos nos mostra como a filosofia nos conduz à contemplação do Divino!
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