É possível um existencialismo realista?

Uma das bases filosóficas do mundo contemporâneo e de suas mazelas ideológicas é o existencialismo materialista.
Podemos dizer que o existencialismo é uma filosofia derivada do niilismo sobre o qual já escrevi algo em um post sobre as consequências do niilismo.
Se o niilismo nega a existência de uma finalidade objetiva que dá sentido ao mundo e a vida humana, o existencialismo nega mais explicitamente o fundamento desta finalidade que é a essência humana.
Se não há uma essência, tampouco haverá uma guia ou uma pauta de nosso atuar ético e racional. Logo, o homem não se define por sua razão, mas sim por uma vontade libre e incondicionada com a qual constrói seu ser.
Adaptando um exemplo de Aristóteles, uma semente de feijão tem uma essência, tal essência inclui a finalidade que a leva a se desenvolver, tornar-se um pé de feijão e multiplicar-se produzindo mais feijão. Se não há um fim que dê sentido à vida humana é porque não existe uma essência humana a qual devemos nos conformar e realizar. Tudo se reduz a uma vontade livre para se autodeterminar arbitrariamente.
Daí que escutemos com certa frequência frases do tipo, “o homem não é, o homem se faz”, “o homem não é nada além do que faz de si mesmo” (Jean- Paul Sartre), “Não se nasce mulher, torna-se mulher” (Simone de Beauvoir) ou o bordão mais genérico “você pode ser tudo o que quiser”
Más é possível um existencialismo realista? Há aspectos do existencialismo que podem ser aproveitados?
O ser humano, de fato, tem uma vontade livre e não nascemos prontos; temos que ir construindo nosso ser com nossas decisões, mas isso não significa ou implica dizer que não exista uma essência humana que justifica a igualdade, os direitos e deveres, etc.
Um exemplo de existencialismo realista é o personalismo, corrente filosófica muito apreciada por São João Paulo II que era também tomista.
Em princípio uma coisa não contradiz a outra: afirmar que temos uma essência real ou natureza humana não significa cair em um determinismo que sufoca a liberdade, a não ser que se tenha um entendimento racionalista de essência como o de Leibniz.
Mas não é isso que Platão, Aristóteles e os escolásticos pensavam da essência. Dizer que possuímos uma mesma essência não significa dizer que está tudo absolutamente dado no ser humano. A própria essência pode incluir aspectos que serão realizados somente mediante a ação livre.
Com a repetição de atos livres formamos hábitos que se incorporam ao nosso ser. É o que na escolástica muitas vezes se denomina “segunda natureza”.
A partir do que é dado pela primeira natureza (essência) construímos com ações livres nosso próprio ser particular (segunda natureza) sempre dentro dos calces daquilo que nos define como seres humanos.
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