Uma reflexão de por que a ética importa
No universo do Senhor dos Anéis, o hobbit Frodo recebe a missão praticamente impossível de destruir o Anel do Poder. Diferentemente de outras obras literárias, a história de Tolkien não se centra em conquistar algo, mas em desfazer-se de algo. Isso porque o Anel devolveria a Sauron todos os seus poderes, permitindo-lhe controlar a mente e a vontade de todos os seres vivos.
O Anel conferia poderes a quem o usasse, sendo a invisibilidade o mais comum. Contudo, à medida que alguém utilizava o Anel, esse indivíduo começava a se corromper, tornando-se cada vez menos livre.

Essa imagem, contudo, não é nova. O filósofo Platão a utilizou em sua obra A República, cujo tema central é a questão da justiça. Como construir uma sociedade justa? Quem deve governá-la? Em termos mais amplos, é uma obra que questiona a importância e a necessidade da ética para a vida em comum. Por que devemos agir eticamente e com justiça?
Para ilustrar a questão, Platão evoca a fábula de um pastor que encontra um anel mágico que lhe concede invisibilidade. Com esse poder, o pastor engana o povo e se torna rei. Daí surge a pergunta: será que a única motivação para agirmos eticamente é o medo da punição? E, se tivermos o poder de estar acima da lei, o que nos levaria a agir com justiça?
Esses questionamentos estão intimamente ligados a uma ideia muito difundida nos dias de hoje: a de que tudo é socialmente construído, inclusive os valores éticos. Mas, se tudo é resultado do costume ou de convenções sociais, o que impediria alguém com poder — seja ele político, cultural ou militar — de impor novas visões de mundo? Nesse caso, ideologias extremas, como o nazismo, não seriam realmente consideradas más, mas apenas expressões culturais de uma determinada época.
É inegável que muitos aspectos de nossa vida possuem uma dimensão cultural. Contudo, é igualmente certo que deve existir um núcleo de valores essenciais que descrevem objetivamente aquilo que é bom para nós enquanto seres humanos. Isso implica reconhecer a capacidade da razão em acessar a verdade sobre o bem, tanto individual quanto social.
Portanto, a ética importa — e muito. Sem esse reconhecimento, nos tornamos vulneráveis a uma perigosa dependência daqueles que detêm maior poder ou influência, colocando em risco nossa liberdade e dignidade.
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