VIRTUDE E VERDADE

Os dois pilares da educação clássica

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O ponto de partida da educação clássica reside em uma antropologia realista: o ser humano não se reduz a uma mente pensante, mas inclui em seu ser, de modo essencial, corpo e alma. Por isso a educação grega possuía dois pilares: a ginástica e a música. Ela buscava alcançar a saúde tanto do corpo quanto da alma como meio para o desenvolvimento pleno do homem.

É fácil, para nós, perceber a importância da ginástica nessa visão da educação. Por outro lado, a música nos parece algo estranho ou, pelo menos dispensável. Isso ocorre não só porque vivemos em um mundo hedonista que supervaloriza o corpo e nos torna míopes para os valores do espírito, mas também porque hoje a “música” se entende como algo direcionado unicamente para alguns talentos particulares.

Vemos a música como a arte dos sons e, por isso, ela não parece essencial para a formação humana. No entanto o conceito de “música” na antiguidade era bem mais amplo. “Música” é um termo derivado de “Musas”, seres mitológicos que inspiravam os poetas na produção de suas obras, que eram cantadas!

Assim, “música” também implicava a formação de uma cultura literária. No tocante à literatura, ela tampouco se reduzia a um simples entretenimento: era por meio da literatura que o jovem captava os valores imersos na complexidade da vida humana; imitando os poetas também se aprendia a ler e escrever corretamente e com estilo. O exercício da memória empregado no aprendizado dos poemas servia como base para a retórica, considerada a arte de bem falar.

Em suma, o foco da educação estava na “phronesis”, isto é, na aquisição da virtude da prudência, que capacita o homem a exercitar sua liberdade e tomar decisões maduras diante das vicissitudes da vida.

Com o fortalecimento da democracia grega, surge uma nova necessidade para homem que vive na comunidade política. Tomar decisões prudentes que conduzam a Pólis para o bem comum, exige um trabalho de convencimento dos seus concidadãos. Nesse contexto, aparecem os sofistas, profissionais que prometiam ensinar essa arte do convencimento.

Todas essas ideias vão se consolidando e encontram o seu ápice na Escola de Isócrates, especializada nos estudos retóricos e em todos aqueles conhecimentos necessários para a arte de convencer como o domínio da linguagem e da dialética. Conhecimentos estes que seriam a base para os disciplinas do Trivium.

Nesse cenário, vemos aparecer outra proposta de ensino que prometia ir além da educação de uma pessoa prudente: é a educação para a sabedoria promovida por Platão em sua Academia. A filosofia não se contenta com o conhecimento prático embasado nos eventos passados ou possíveis expressos na literatura. A filosofia almeja a verdade essencial sobre mundo, sobre Deus e sobre o homem, verdade esta que dará ao homem a razão sólida para o atuar.

Eis aqui a essência da educação clássica: uma jornada formativa em vista do aperfeiçoamento daquilo que nos define como seres humanos: a inteligência iluminada pela verdade e a vontade guiada pela virtude.

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Prof. Dr. Ivo Fernando da Costa, Phd.