Enquadrando do ser humano no mundo da quantidade
O cientificismo é a crença de que o conhecimento científico é o único saber válido capaz de explicar a realidade. Consequentemente tudo que não passa pelos filtros da ciência é simplesmente tido como irreal ou subjetivo.
Mas a própria ideia de que “a ciência é o único saber válido” não é científica, logo, ela mesma deveria ser rejeitada...
Explico. Historicamente, o que fizeram os fundadores da ciência moderna — Galileu, Descartes, Bacon... — foi propor um novo modo de conhecer o mundo, diverso do saber filosófico. Como comentamos em outras postagens, a filosofia como sabedoria busca conhecer todas as coisas, sem estar estritamente amarrada a um método específico.
Já a ciência procura explicar fatos observáveis pautada em duas premissas principais: o estabelecimento de um objeto preciso de investigação e o estudo de tal objeto por critérios empíricos que permitem quantificar tal objeto e descrevê-lo em termos matemáticos.
Agora, a tese cientificista contradiz essas duas premissas. Qual é o objeto concreto que estamos estudando? Quais dados empíricos podemos coletar para corroborar esta ideia? É possível descrever matematicamente esta tese? Para todas estas perguntas a resposta é não.
Mais ainda, se mantemos a posição cientificista, estaríamos reduzindo de maneira forçada a experiência humana ao mundo puramente material da matemática e da quantidade. Ou seja, há coisas reais que a ciência não consegue explicar com seu método. Nesse sentido, William Lane Craig, em seu primeiro debate com o químico Peter Atkins, ressaltou 5 pontos que a ciência não alcança com seu método:
- A existência. Não somente a questão da existência de Deus, mas a existência em geral. A ciência simplesmente assume que as coisas existem, mas não consegue dizer o que é a existência nem provar por que existe algo em vez de nada?
- A ciência tampouco explica a leis da lógica e da matemática; tais leis são pressupostos que não se questionam em seus modelos e explicações.
- A ciência não consegue explicar os fatos morais. Ela só diz como o mundo é, mas não como as coisas devem ser. Posso ter o conhecimento para produzir uma bomba atômica, mas isso não me diz se devo fazê-lo ou não.
- O sentido da beleza. O belo é algo que transcende a pura experiência empírica e mesmo assim é algo, em certo sentido, objetivo. As sinfonias de Beethoven são belas, mesmo que ninguém as tenha escutado.
- Finalmente, a ciência não pode explicar ou provar a confiabilidade de seus próprios métodos: a generalização, o princípio da correspondência, a indução, as hipóteses e testes não podem se justificar sem formar um círculo lógico. Então, como sabemos que a ciência “funciona”? Não pela investigação científica! Isto pertence mais propriamente ao reino da filosofia.
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