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  • Ivo Fernando da Costa

O desvelamento da realidade


O intelecto está em uma constante busca pela inteligibilidade das coisas. Mas o que vem a ser isso de inteligibilidade?


Brevemente ela é o “desvelamento da ordem”.


Nem sempre a compreensão do mundo e de nós mesmos é fácil ou evidente. De ordinário nos deparamos com questionamentos, dúvidas ou dificuldades que desafiam nossa compreensão.


É por isso que a razão humana está em um incessante processo de depuração do sentido da realidade que se nos apresenta (φαινόμενον) como um enigma (ἀπορία). Desvendar o enigma da realidade não significa simplesmente construir narrativas. A inteligibilidade como desvelamento da ordem possui duas condições: elucidação e justificação.


Tais ideias estão presentes no mito de “Édipo Rei” de Sófocles, concretamente na passagem em que o herói resolve o enigma da Esfinge. Ele não somente elucidou uma explicação qualquer para o problema, mas descobriu o seu sentido verdadeiro, ou seja, aquele que correspondia à realidade justificando assim sua vitória sobre o mal que o monstro representava.


Nesse sentido, a ideologia nada mais é que uma narrativa não justificada. Ou seja, sua finalidade não consiste em desvelar a compreensão verdadeira da realidade, mas na dominação por meio do discurso. Porém, por mais persuasivo que seja um discurso, ele nunca passará o teste da realidade caso se reduza a uma articulação vazia de conteúdo ontológico.


A busca pela ordem ou sentido verdadeiro possui várias camadas, dependendo dos modos como encaremos a realidade. Assim temos que:


➔ A arte é um desvelamento da inteligibilidade estética. Uma autêntica obra de arte nos revela a verdade sobre o Belo através da experiência sensitiva. Toda obra de arte, retratando uma experiência particular, nos leva de maneira intuitiva ao conhecimento da Beleza em geral. A experiência retratada é elucidativa; a beleza reconhecida justifica a obra de arte.


➔ A ciência é um desvelamento da inteligibilidade empírica descrita matematicamente. Com a ciência moderna buscamos compreender a realidade desde seus aspectos materiais, quantificáveis e mensuráveis. Por exemplo, as leis da física ou da química são uma descrição matemática da regularidade dos fenômenos observáveis. A inteligibilidade da ciência está em evidenciar essa ordem dos dados empíricos. As hipóteses científicas são uma elucidação; o teste empírico é sua justificação.


➔ A matemática é um desvelamento da inteligibilidade quantitativa. A quantidade é um dos traços distintivos dos entes materiais. A base da matemática está no conhecimento da quantidade e de suas propriedades como a extensão, a divisibilidade, a grandeza, a figura, etc. Por exemplo, da divisibilidade da quantidade chegamos ao conceito do número como uma pluralidade medida pela unidade; ou ao conceito de relação, proporção, etc. Na matemática visamos articular a diversidade e multiplicidade (elucidação), reduzindo-a à identidade que se fundamento na unidade (justificação).


➔ A filosofia é um desvelamento da inteligibilidade metafísica ou ontológica. Ela não se restringe aos aspectos materiais, empíricos e quantitativos da realidade, mas almeja entender racionalmente o ente real como um todo a partir de suas causas últimas. Por isso, seu conhecimento vai além daquilo que o mundo físico pode nos dizer. Seu objeto é o ente enquanto ente e não o ente material. Como afirma Aristóteles, "o ente se diz em muitos sentidos" que se entendem (elucidação) à luz de sua unidade analógica de significado (justificação).


➔ A teologia é um desvelamento da inteligibilidade da fé. Pela fé chegamos ao conhecimento harmônico (elucidação) das verdades reveladas por Deus e contidas nas Escrituras (justificação). A teologia representa uma esforço da razão para uma maior compreensão daquilo que Deus nos diz por meio de sua Palavra.


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