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  • Ivo Fernando da Costa

O elefante de Eddington e os limites do saber científico


Arthur Eddington foi um importante cientista do início do século XX, introduzindo a Teoria da Relatividade no mundo de fala inglesa. Sua equipe estava presente em Sobral, no interior do Ceará, durante o eclipse solar que corroborou a teoria de Einstein.


Para muitos astros contemporâneos da divulgação científica como Neil deGrasse Tyson, algo somente é categorizado como real ou importante se for possível de ser analisado pelos procedimentos da ciência moderna.


Ou seja, tudo que é real e importante, deveria se resolver em dados sensíveis organizados formalmente em equações, leis e teorias. Contudo, isso não é uma verdade absoluta e sim um pressuposto filosófico. Há muito mais na realidade que a ciência, por opção, não considera.


O fato de que a ciência não pondere a realidade em toda sua complexidade não significa dizer que aquilo que não passa pelos filtros do seu método não seja real. Afirmar isso nada mais é que cientificismo: uma falácia ou erro categorial que não pode ela mesma ser cientificamente testada.


Os modelos matemáticos são abstrações que omitem, por questões metodológicas, quase toda a realidade em favor de um conjunto restrito de variáveis. Devido as essas abstrações, podemos vislumbrar os processos físicos subjacentes aos fenômenos. No entanto, elas continuam sendo abstrações que omitem os detalhes do que está acontecendo no mundo real. Descrevem parte da realidade, não toda ela.


Arthur Stanley Eddington

Eddington era bem consciente disso. As equações são necessariamente recortes da realidade. Em seu livro “The Nature of the Physical World” (1928), ele ilustra a natureza, o alcance e os limites do saber científico com um exemplo muito pitoresco: "Um elefante desliza por uma encosta coberta de grama..."


Confira um trecho do livro, que por sua clareza dispensa mais explicações:


Se pesquisarmos exames de física e filosofia natural em busca das questões mais inteligíveis, podemos deparar-nos com uma que começa assim: "Um elefante desliza por uma encosta coberta de grama..." O candidato experiente sabe que não precisa dar muita importância para isso; é apenas colocado para dar uma impressão de realismo. Ele continua lendo: "A massa do elefante é de duas toneladas". Agora vamos ao que interessa; o elefante some do problema e uma massa de duas toneladas toma o seu lugar.
O que são exatamente estas duas toneladas, o verdadeiro assunto do problema? Refere-se a alguma propriedade ou condição que descrevemos vagamente como "ponderosidade" que ocorre numa determinada região do mundo exterior. Mas não iremos muito mais longe; a natureza do mundo externo é inescrutável, e mergulharemos apenas num pântano de coisas indescritíveis.
Não importa a que se referem as duas toneladas; o que ela é? Como entrou de fato de uma forma tão incisiva na nossa experiência? Duas toneladas são a leitura de um ponteiro quando o elefante foi colocado sobre uma balança.
Passemos adiante. "A encosta da colina é 60˚". Agora a encosta some do problema e um ângulo de 60˚ toma o seu lugar. O que é 60˚? Não há necessidade de lutar com concepções místicas de direção; 60˚ é a leitura de uma linha de prumo contra as divisões de um transferidor. Do mesmo modo, para os outros dados do problema. A grama suave em que o elefante desliza é substituída por um coeficiente de atrito [...].
E assim vemos que a poesia se desvanece do problema e quando a aplicação séria da ciência exata começa, ficamos apenas com as leituras de ponteiros. [...] A questão presumivelmente era encontrar o tempo de descida do elefante, e a resposta é uma leitura ponteiro no mostrador dos segundos do nosso relógio.
O triunfo da ciência exata no problema anterior consistiu em estabelecer uma ligação numérica entre a leitura do ponteiro na balança em uma experiência sobre o elefante e a leitura do ponteiro em um relógio noutra experiência. E quando examinamos criticamente outros problemas de física, verificamos que isto é típico.
O ponto essencial é que, embora pareçamos ter concepções muito definidas dos objetos no mundo exterior, essas concepções não entram na ciência exata e não são de modo algum confirmadas por ela. Antes que a ciência exata possa começar a lidar com o problema, elas devem ser substituídas por quantidades que representem os resultados da medição física.
 

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA:


EDDINGTON, Arthur Stanley. The Nature of the Physical World. London: J. M. Dent & Sons, 1935. Link.

BARR, Stephen M. Modern Physics and Ancient Faith. Indiana: University of Notre Dame Press, 1953. Link. PRIETO LÓPEZ, Leopoldo José. El drama de las cantidades. Revista española de Teología, 2012. Link. SCHERZ, Paul Joseph. Science and Christian ethics. First edition. Cambridge New York (N.Y.): Cambridge University Press, 2019. (New studies in Christian ethics, 38).



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