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  • Ivo Fernando da Costa

O homem como um ser de natureza simbólica



Dentre os traços que distinguem o ser humano a expressão artística é um dos mais universalmente aceito, junto com a racionalidade e a liberdade.


De fato, se há algo que define essencialmente a arte, isso é o seu caráter simbólico, antes mesmo da imitação (Platão)[1] ou da técnica que plasma na matéria a forma presente na mente do agente (Aristóteles).[2]


Mas o que vem a ser um símbolo? Etimologicamente o termo procede do grego “symbolon” (σύμβολον), derivado do verbo “symballo” (συμβάλλω) que significa “lançar junto”.


Na antiguidade, símbolo significava um objeto dividido ao meio permitindo posteriormente que as duas partes fossem novamente reunidas. Era uma forma de garantir a autenticidade daqueles que possuíssem uma das partes.


A partir disso, o termo passou a significar aquela realidade que supera ou transcende a si mesma, isto é, remete a outra coisa para além de si. No entanto, tal dinâmica não é exclusiva de sua manifestação artística, antes a precede e a fundamenta perpassando toda nossa condição humana. Podemos dizer que nossa racionalidade em seus aspectos linguísticos e conceituais, assim como nossa vontade se atualizam de maneira simbólica.


Uma maneira de definir nossa linguagem é como “um sistema convencional de símbolos”. Por exemplo, a palavra casa é um símbolo que remete ao conceito “casa”. É convencional, pois não há nada nela que a vincule necessariamente à sua ideia correspondente. Por isso que temos uma diversidade de idiomas.


Os conceitos que temos em nossa mente também são simbólicos: a ideia “casa” remete à casa concreta que está fora de minha mente. É o que os filósofos escolásticos denominavam intencionalidade cognitiva. Nesse caso, temos no conceito abstrato um símbolo natural que obtemos por um processo de abstração a partir das diferentes casas concretas.


Inclusive nossa vontade livre apresenta uma dinâmica simbólica, pois ela, escolhendo um bem determinado, o faz sempre no horizonte do Bem Ilimitado. Em outras palavras, todo bem finito é para a vontade algo que expressa de modo concreto aquilo que se encontra plenamente no Bem Ilimitado ao qual tende naturalmente. Por isso afirma Santo Agostinho: “Fizeste-nos para Ti e inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em Ti”.[3]


Tal inquietude do coração manifesta não somente o mecanismo simbólico de nossas faculdades, mas também natureza simbólica de nosso próprio ser. Cada pessoa é a expressão da “humanidade, daquilo que significa “ser humano”.


Mais ainda, dado que todo efeito é similar a sua causa, toda a criação carregará uma semelhança com a sua causa que é Deus. Como Ele é o Ser por essência, todo ser criado se apresentará como um símbolo do criador. Conforme afirma Santo Tomás: “todas as coisas se assemelham a Deus, em primeiro lugar, do modo muito comum, enquanto existem”.[4]


Mas o ser humano, como espírito encarnado,[5] não tem somente uma semelhança vestigial ou genérica. Por ser uma pessoa dotada de inteligência e vontade, ele se assemelha especificamente à própria natureza de Divina, podendo realizar atos que são próprios de Deus como entender e amar. Esta semelhança específica é o que Santo Tomás chama de imagem.[6]


Em definitiva, o homem é símbolo da Divindade, remetendo diretamente ao Criador como sua imagem e semelhança![7]


***


Referências


[1] PLATÃO, A República, Livro X, 598 a.

[2] ARISTÓTELES, Metafísica, Livro 7, 1032 a 30.

[3] SANTO AGOSTINHO, As Confissões, I, 1,1.

[4] SANTO TOMÁS, Suma Teológica, I, 93, 2.

[5] SÃO JOÃO PAULO II, Encíclica Familiaris Consortio, n. 11.

[6] SANTO TOMÁS, Suma Teológica, I, 93, 1.

[7] Gn 1,26.

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