
Gostaria de compartilhar hoje, Dia Mundial da Filosofia, algumas ideias sobre a sua origem.
Vocês provavelmente estão pensando que vou escrever algo sobre a história da filosofia... mas não é o que farei! Na verdade, é exatamente o contrário.
A origem da filosofia é a-histórica; sua raiz é antropológica (aquilo que nós somos) e ontológica (a realidade a que pertencemos).
Aristóteles na Metafísica afirma: “De fato, tanto agora como no princípio, os homens começaram a filosofar por causa da admiração na medida em que ficavam perplexos diante das dificuldades [...].”
Há duas palavras chaves nesse texto: θαυμάζω (thaumazo=admirar) e ἀπορέω (aporeo=ter dificuldade). Chamo a atenção para o matiz de cada uma delas.
Θαυμάζω passa a ideia de algo que chama a atenção e merece ser apreciado ou analisado. Etimologicamente está ligada a “theaomai” (ver) e a “theoreo” (considerar, contemplar).
Já “aporeo” procede de “poros” (saída). Daí surge em português “aporia” (dificuldade lógica; ponto sem saída). Podemos, então, entender ἀπορέω como um problema que nos deixa perplexos.
Portanto, a filosofia se origina no desejo pela explicação racional da realidade despertado pela perplexidade perante nossa ignorância.
Disso concluímos que, ontologicamente não é o produto de nossa vontade; ela é algo se impõe à sobre a inteligência. Isso não significa que o conhecimento seja algo fácil; o mundo, de fato, se apresenta algo complexo e por vezes caótico.
Antropologicamente, a experiência da admiração revela nosso desejo natural de conhecer a verdade. Se estivéssemos satisfeitos com passivamente contemplar fatos, nunca empreenderíamos a busca pelo conhecimento. A realidade, além de objetiva se pressupõe também inteligível; há nela uma causa ou razão explicativa.
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