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  • Ivo Fernando da Costa

“Chegará o dia em que teremos que provar ao mundo que a grama é verde”


Essa é uma frase — junto com outras semelhantes — que Chesterton costumava afirmar em certo tom de ironia. Lembremos que a ironia é uma figura de linguagem por meio da qual queremos expressar o contrário do que se quer dizer verbalmente.


Ou seja, há verdades evidentes e que, portanto, não é possível, nem racional, querer buscar uma demonstração para elas.


Esse tema é conhecido na Escolástica como a questão do “habitus principiorum”, isto é, o conhecimento da verdade necessária dos primeiros princípios.


No entanto, isso é algo que já se encontrava em Aristóteles para quem toda argumentação válida e verdadeira se alicerçava, em última análise, sobre a verdade de algumas premissas evidentes.


De fato um silogismo é um tipo de argumentação que extrai sua conclusão da junção de duas ou mais premissas. Por exemplo, P1: “todo homem é mortal”; P2: “Sócrates é um homem”; C: “Sócrates é mortal”.


Uma das características da conclusão de um silogismo válido, é que a verdade da conclusão deriva da verdade das premissas. Mas de onde vem a verdade das premissas?


Há duas alternativas: ou elas são evidentes e não precisam ser provadas, ou não. Se não são evidentes, exigirão outro silogismo anterior que as demonstre e, se as premissas desse último não são evidentes, outro e outro...


Logo, se não afirmamos a existência de verdades primeiras e evidentes, cairemos em um regresso infinito e nunca poderíamos concluir com certeza qualquer proposição.


Alguns exemplos dessas verdades primordiais da razão seriam: princípio de não contradição, princípio de identidade, de razão suficiente, etc.


No entanto, a evidência não se encontra somente no nível do conhecimento intelectivo. Aristóteles em sua obra “De sensu et sensatu” afirma que os sentidos não erram em seu objeto próprio.


Mas tudo isso — evidência sensível e inteligível — se assenta sobre a ideia de que conhecemos a realidade, por mais que tal conhecimento seja imperfeito e limitado.


A ironia de Chersterton consiste, então, na crítica ao pensamento moderno que embasa sua filosofia na dúvida universal (Descartes), no ceticismo (Hume) e, em última análise, na negação de nossa capacidade para conhecer verdades necessárias e universais (Ockham). Seguir este caminho nos levaria certamente ao absurdo de negar o óbvio.


No entanto, havia duas coisas que Chesterton não imaginou: primeiro, que a ironia se converteria em profecia; segundo, que hoje não somente é preciso mostrar que a grama é verde, mas também que a grama é grama.

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