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  • Ivo Fernando da Costa

Comentário de Santo Tomás ao livro “De Hebdomadibus” de Boécio.

Tradução


Nota introdutória:


“De Hebdomadibus” é a denominação com a qual a obra de Boécio ficou conhecida no período medieval, porém nos manuscritos o texto se intitula: “Quomodo substantiae in eo quod sint bonae sint cum non sint substantialia bona, liber. Ad Ioannem Diaconum Ecclesiae Romanae”. A pesar disto, a palavra “hebdomas”, de origem grega, é mencionada já na primeira frase da obra. Parece que, com o passar do tempo, os autores medievais em seu afã de brevidade usaram este termo chave em lugar do título original. Todavia, um problema maior é a compreensão do significado pretendido pelo autor ao usar este termo. A tendência interpretativa tem sido a de perscrutar intratextualmente o sentido de “hebdomas” ligando de algum modo a etimológica da palavra com o método axiomático usado para resolver a questão sobre a bondade do ente. Assim “hebdomades” significaria “concepções”, ou seja, as proposições evidentes a partir das quais se argumenta a questão. Porém no texto são apresentados ao menos nove axiomas, o que entra em conflito com o significado próprio de “hebdomas” que quer dizer conjunto de sete dias ou semana. Por isso, foram surgindo outras variantes da expressão num esforço de atenuar seu significado etimológico e aproximá-la da ideia de concepção autoevidente ou axioma. Neste sentido, o autor do “Fragmentum Admuntense” afirma que “hebdomas” significa “reflexão”, pois procede de “ἑπτά” que significa sete e os antigos quando queriam resolver alguma questão difícil costumavam pedir sete dias para refletir sobre o tema (HÄRING, 1971, p. 119). No entanto, isto assume que “hebdomas” tem um significado simbólico. Outros autores, buscando uma significação literal, procuram substituir “hebdomas” por outras formas próximas. Assim, Remigio d’Auxere faz derivar o título de um suposto verbo grego “ἔβδω” que significaria conceber (RAND, 1906, p. 50). O problema desta explicação é que tal verbo não existe em grego. Por outro lado, Teodorico de Chartes y Clarembaldo de Arras afirmam que “ebdomadibus” seria uma palavra composta “ἐβ” e “δόμας” em que, por uma mutação consonântica, a “ἐν” se converteu em “ἐβ”. No entanto, isto não se justifica em grego, visto que a preposição “ἐν”, terminada em uma consoante líquida, nunca se transmutaria em “ἐβ” que termina em uma labial. Já a palavra “δόμας” estaria emparentada com “domus”. Assim “ebdomadibus” significaria algo como dentro de casa, no interior ou alma. Mas neste caso, novamente estaríamos jogando como uma interpretação simbólica. São Tomás parece, em parte, aceitar esta leitura, mas não a atribui diretamente ao título, mas ao sentido da obra citando em seu proemio o livro do Eclesiástico. Por outro lado, seguindo a tendência de adaptação etimológica, ele sugere que “hebdomas” significaria “declarar”, talvez pela proximidade fonética com o verbo “ἐκδίδωμι” como o dão a entender os críticos da Edição Leonina das Obras Completas do Santo (AQUINO, 1996, p. 260-263). Outra forma de entender “hebdomas”, seria encontrar-lhe um sentido extratextual, apostando na literalidade de seu significado. Desta forma, por “hebdomas” Boécio poderia estar se referindo a certas “Jornadas” ou “semanas” de reflexão, isto é, determinados momentos em que ele e seus achegados se reuniriam secretamente para a ponderação de princípios metafísicos (HUNDRY, 1997, p. 319-337) de difícil compreensão por parte da maioria das pessoas que só valorizariam temas superficiais. Esta interpretação poderia estar respaldada pela própria acusação que Boécio recebeu de apoiar o senador Albino pelo suposto envio de cartas secretas ao Imperador do Oriente conspirando contra o reino Ostrogodo. No entanto, fora este indício, tal interpretação não apresenta outras evidências. Diante desta problemática brevemente exposta, optamos por não traduzir o termo “hebdomadibus” e seus derivados.


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Texto Latim-português:


Comentário ao De Hebomadibus (latim-português)
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