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  • Ivo Fernando da Costa

O simbolismo do Pelicano Eucarístico


Santo Tomás nos ensina que o conhecimento humano parte sempre dos sentidos. Somente a partir dos estímulos apreendidos pelos sentidos externos e das imagens sensíveis elaboradas pelos sentidos internos (memória, imaginação, sentido comum e cogitativa) é que podemos abstrair e compreender as noções universais.

 

Os símbolos desempenham um papel importantíssimo no processo do conhecimento, fornecendo ao intelecto exemplos, imagens e analogias com realidades mais imediatamente conhecidas para que, dessa forma, possamos alcançar aquelas verdades universais e necessárias que são tais precisamente por estarem mais afastadas do mundo sujeito às contingências da matéria.

 

Esse é o sentido da iconografia e dos simbolismos cristãos. Negar a licitude dos símbolos e a instrumentalidade do uso das imagens pressupõe uma visão antropológica empobrecida. O homem não é um ser puramente espiritual; sua essência inclui indissoluvelmente a união de alma e corpo trabalhando em conjunto. Santo Tomás é muito enfático nisto: sem as faculdades cognitivas corporais, não seríamos capazes de fazer nem sequer uma intelecção.

 

A iconografia cristã possui uma rica gama de simbolismos que servem como instrumentos que nos conduzem a uma compreensão mais profunda, pessoal e encarnada das verdades espirituais. Na constelação dos mistérios da fé, a Eucaristia ocupa um lugar central cuja instituição celebramos hoje nesta Quinta-Feira Santa.

 

Um dos símbolos – bastante esquecido – que ilustra este mistério é o do pelicano alimentando seus filhotes. Trata-se de uma lenda pré-cristã que, junto com outras como a do unicórnio e a da Fênix, foi recolhida na obra “Fisiólogo” por um autor do século II, em Alexandria, que as vinculou de maneira alegórica às verdades da fé.

 

Devido provavelmente a uma enfermidade, alguns desses animais ficam com a plumagem avermelhada próximo da região onde o bico toca o peito. Isso levou à crença de que o pelicano, em períodos de escassez, alimenta seus filhotes com seu próprio sangue. Outra versão da lenda narra como as crias em sua fome terminam machucando a mãe e esta, revidando, acaba ferindo-as mortalmente. Três dias depois, a mãe, sem encontrar alimento, se sacrifica abrindo o próprio peito e dando do seu sangue para curar e salvar seus filhotes.

 

Tudo isso levou os cristãos a associarem a imagem do pelicano com os eventos da paixão de Cristo e com a instituição da Eucaristia, na qual o Senhor nos oferece seu corpo e sangue como alimento. O pelicano simboliza Jesus que nos redimiu com o sacrifício de sua paixão e morte.

 

Estávamos mortos pela rebelião do pecado, mas encontramos uma nova vida através do Sangue de Cristo. Além disso, Cristo nos alimenta continuamente com seu corpo e sangue na santa Eucaristia.

 

Séculos mais tarde, Santo Tomás incluiu o símbolo do Pelicano em seu belo e profundo hino Eucarístico que rezamos hoje: o “Adoro te devote”. Deixo a seguir a versão latina do Hino e a tradução que fiz dele.


 

O memoriale mortis Domini!

panis vivus, vitam praestans homini!

praesta meae menti de te vivere

et te illi semper dulce sapere.

 

Pie pellicane, Iesu Domine,

me immundum munda tuo sanguine;

cuius una stilla salvum facere

totum mundum quit ab omni scelere.

  

Te cum revelata cernam facie,

visu tandem laetus tuae gloriae;

Patri, tibi laudes et Spiritui,

dicam beatorum iunctus coetui.

Amen.

Memorial da morte do Senhor!

Pão vivo, dando vida ao homem!

Concede à minha mente viver de ti

e que ela sempre te saboreie docemente.

 

Senhor Jesus, Piedoso pelicano,

estou imundo; purifica-me com teu sangue,

do qual única gota pode salvar

o mundo inteiro de todo pecado.

 

Que eu possa ver tua face revelada;

finalmente, com a alegre visão de tua glória,

Direi louvores ao Pai, a ti e ao Espírito Santo unido ao glorioso grupo dos bem-aventurados.

Amém.


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