Não me considero um seguidor as ideias de Schopenhauer. Os motivos são vários, mas se resumem ao fato de ele fundamentar sua filosofia nas ideias de Kant.
Para Kant, não conhecemos a realidade (coisa em si), mas somente a configuração que nossas estruturas mentais (categorias a priori do entendimento) impõem sobre os dados sensoriais.
Mas negar o conhecimento objetivo da realidade parece (e é) algo bastante contraintuitivo. Dessa forma, as ideias de Kant foram sendo desenvolvidas no Idealismo Alemão até chegarmos no racionalismo extremo de Hegel que identificava pensamento e realidade: “O que é real é racional, o que é racional é o real”!...
Schopenhauer, discordando de Hegel, desenvolve o pensamento kantiano em outra direção. Se tudo que aparece no horizonte de nosso entendimento é uma representação, a única realidade objetiva (coisa em si) será uma vontade irracional. De fato, se negarmos a luz da verdade como farol que guia nossas decisões, não restará outra alternativa que definir o ser humano como uma vontade e descontrolada.
Daí outro aspecto de seu pensamento, o pessimismo. Se não podemos transcender a nossa subjetividade para conhecer o mundo real, menos ainda isso será possível para conhecer a realidade Transcendente por excelência. Logo, tal vontade insaciável nunca encontrará um descanso definitivo no Bem e no Fim Último que é Deus.
Contudo, há alguns aspectos desse filósofo que me agradam. Ao criticar o Idealismo, ele desenvolve uma filosofia, digamos, mais “pé no chão” e existencial. A final de contas, nem tudo em nossa vida é sucesso, existem também os fracassos e as decepções. Além disso, a vontade é uma dimensão real de nosso ser (o que não implica uma visão irracional do homem).
Por isso que encontro uma sabedoria e uma valor nos dez conselhos para a felicidade que ele nos oferece:
1. Evite a inveja e as comparações
"Nada é tão implacável ou cruel como a inveja". Ela é uma das emoções mais negativas que podemos experimentar porque nos condena a um estado de insatisfação permanente, afastando-nos da felicidade.
Comparar-se com os outros implica dedicar tempo e energia a uma tarefa infrutífera, porque geralmente nos comparamos com aqueles que nos parecem mais ricos, mais capazes ou mais felizes.
Portanto, o primeiro passo para a felicidade é parar de nos comparar e entender que a inveja não tem sentido porque todos nós somos diferentes.
2. Pare de se preocupar com resultados
Schopenhauer disse que antes de embarcar em qualquer projeto ou tomar uma decisão importante, devemos pensar ponderadamente sobre o assunto, mas uma vez dado o passo, devemos parar de se preocupar obsessivamente com os resultados. Devemos dar o melhor de nós mesmos e permanecer com a satisfação íntima de ter feito o melhor, sem estarmos muito ansiosos com os resultados obtidos, pois muitas vezes eles nem sequer dependem exclusivamente de nós.
3. Siga seus instintos
Schopenhauer pensava que há pessoas muito criativas e outras mais lógicas, pessoas que são levadas à ação e outras a contemplação. Portanto, uma de suas dicas para ser feliz é ouvir nossas intuições. Isto é, encontrar nossa autêntica paixão e segui-la.
4. Faça sua felicidade depender somente de você
Se nossa felicidade depende dos outros, então não é nossa própria felicidade. Por isso, "a felicidade pertence àqueles que são autossuficientes, porque todas as fontes externas de felicidade e prazer são, de acordo com sua espécie, inseguras, defeituosas, fugazes e sujeitas ao acaso". Devemos, portanto, procurar razões para sermos felizes dentro de nós mesmos, não fora.
5. Limite seus desejos
Schopenhauer pensava que os descontrolados nos afundariam continuamente em uma espiral de insatisfação que nos leva a perseguir coisas que nunca acabarão por nos realizar, pois gerarão novas necessidades e desejos. Portanto, ele estava profundamente convencido de que um dos segredos da felicidade é querer muito menos.
6. Controle suas expectativas
Não somente devemos limitar nossos desejos, mas também nossas expectativas, pois estas são muitas vezes a causa da infelicidade. Toda expectativa que não é atendida é um terreno fértil para a frustração. De fato, ele afirmou que "em vez de especular sobre possibilidades favoráveis, inventando centenas de ilusões esperançosas, todas repletas de decepções se não forem cumpridas, devemos nos concentrar em todas as possibilidades adversas, o que nos levaria a tomar precauções". Em outras palavras, ele nos incentiva a desenvolver uma visão mais realista que nos permite lidar com os obstáculos, em vez de ter falsas expectativas que nos fazem infelizes.
7. Valorize o que você tem como se você o perdesse amanhã
"Raramente pensamos no que temos; mas sempre no que nos falta".
Portanto, devemos aprender a olhar para a vida através de lentes mais positivas, sentindo-nos gratos por esses "dons" e aproveitando-os enquanto podemos. Começar o dia agradecendo pelo que temos é uma excelente maneira de cultivar a felicidade.
8. Seja compassivo consigo mesmo
Analisando nossas vidas e os erros que cometemos, podemos exagerar, levando a um profundo sentimento de culpa e insatisfação, o que, por sua vez, gera amargura. Por esta razão, Schopenhauer disse que "a bondade é como um travesseiro, que mesmo que não tenha nada dentro, ao menos amortece a devastação da vida". O filósofo nos encoraja a sermos mais gentis e compreensivos com nossas falhas e fraquezas, o que não significa que não devemos tentar melhorar, mas sem autoflagelação.
9. Equilibrar a atenção entre o presente e o futuro
Schopenhauer pensou que um desequilíbrio entre a atenção que damos para o presente e a atenção que damos ao futuro pode fazer com que um estrague o outro. Em essência, ele nos exorta a fazer planos, mas mantendo os pés no chão, aproveitando o aqui e agora, sem adiar a felicidade para um futuro que pode nunca vir. Sua ideia era que não deveríamos hipotecar nossa felicidade para um objetivo futuro, mas também não deveríamos estar muito enevoados pela adversidade presente para pensar que o futuro não nos trará nada de positivo. A chave é mover-se fluidamente através do tempo, para encontrar em cada momento o que precisamos para seguir em frente.
10. Aprender e aprender, sempre
Schopenhauer disse "não há vento favorável para aqueles que não sabem para onde estão indo".
Portanto, ele sempre deu grande importância aos planos e projetos futuros, que trazem uma boa dose de entusiasmo à vida.
Quando ficamos em nossa zona de conforto, sem aprender nada ou planejar novos desafios, pouco a pouco nos queimamos todos os dias.
Portanto, para sermos felizes, temos que continuar avançando, aprendendo sempre algo novo e estabelecendo novos desafios que nos permitam crescer como pessoas.
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