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Ivo Fernando da Costa

O ofício do Sábio segundo Santo Tomás


O papel da filosofia para Santo Tomás de Aquino
Santo Tomás de Aquino

Há alguns anos, fui convidado para ministrar uma palestra sobre a relação entre ética e ciência na Udesc. O auditório, em sua maioria, era composto por professores e estudantes de física e química.


Ao final da minha fala, reservei um tempo para perguntas. A primeira delas foi: “O que é o pensamento crítico e como podemos alcançá-lo?”. Talvez, em algum momento da minha exposição, eu tenha dado margem para essa questão, pois abordei como a ética é objetiva e, ao mesmo tempo, como, em muitos aspectos, a ciência pode ser subjetiva.


Seja como for, é bastante comum, hoje em dia, associar a filosofia ao tão aclamado “pensamento crítico”. Afinal, ninguém deseja ser rotulado como “gado” ou massa de manobra. O ofício do filósofo, nessa visão, parece se reduzir a um constante “problematizar”, conduzindo os ouvintes à conclusão de que não existem verdades absolutas e de que, consequentemente, tudo o que vivemos não passa de meras estruturas de dominação.


Com isso não estou negando que o fazer perguntas ou questionar um “status quo” integre aquilo que deve fazer um filósofo; Sócrates, afinal, fazia isso o tempo todo. O problema está em reduzir a filosofia a uma mera atividade desconstrucionista. Sócrates questionava seus interlocutores, mas sempre com o objetivo de desvelar o fundo de verdade oculto por detrás das aparências.


De fato, não faz sentido fazer perguntas se não partirmos do pressuposto da existência da verdade. Quem se considera autoridade plena em algo não faz perguntas — apenas exige que os outros o sigam, pois já acredita ter todas as respostas. Para o cético, por outro lado, perguntar também é inútil, já que, para ele, a verdade é inalcançável.


Sócrates (ou Platão falando pela boca de Sócrates) afirma que o filósofo é como o capitão que, ao olhar para as estrelas, conduz a embarcação e seus marinheiros ao seu destino. Isso significa que o ofício do sábio consiste em contemplar, em meio à escuridão, ao mar agitado e à neblina, as verdades mais elevadas, eternas e transcendentes e, com base nelas, conduzir os demais ao porto seguro de sua jornada.


É exatamente isso que nos diz Santo Tomás de Aquino, ao emprestar as palavras de Aristóteles: “É próprio do sábio ordenar”. Em outras palavras, a sabedoria consiste em evidenciar a verdade das coisas, alcançada quando elas estão dispostas em conformidade com seu fim, que é também o seu bem.

Por exemplo, como sei que uma caneta é boa ou autêntica caneta? Quando ela cumpre adequadamente sua finalidade, que é escrever.


A filosofia é, portanto, a ciência da verdade — não das verdades menores das ciências particulares, mas d’Aquela Verdade que é origem e causa de toda verdade: Deus.


Por isso, Santo Tomás de Aquino afirma (Suma Contra os Gentios, I, cap. I): que o ofício do sábio é declarar aos homens a Verdade Divina que ele contempla e denunciar os erros que lhe são contrários.


Nesse sentido, o “pensamento crítico” não é o fim último da filosofia, mas apenas um meio para algo mais elevado.

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