Em 2009, atuei como professor auxiliar no Ateneu Pontifício Regina Apostolorum, em Roma. Naquela época, fui responsável por uma disciplina que, se não me falha a memória, chamava-se “Seminário de Síntese”.
A finalidade dela era auxiliar os estudantes na preparação para o exame final de síntese, uma avaliação que abrangia todas as disciplinas estudadas ao longo do curso. Essa prática, comum nas universidades eclesiásticas, consistia em um exame oral de uma hora, conduzido por uma banca composta por quatro professores.
Foi uma experiência incrível em que aprendi muitas coisas. Um desses aprendizados foi me tornar mais consciente de uma tendência que todos nós temos, especialmente aqueles com um interesse mais sério pela vida de estudos: o desejo de encontrar um roteiro pronto, uma espécie de "receita de bolo" para os estudos.
O que aprendi, no entanto, é que essa receita simplesmente não existe. Na prática, os alunos frequentemente me pediam os esquemas e resumos pessoais que eu havia elaborado para o meu próprio exame de síntese. Eles acreditavam que esse era o caminho para alcançar a Sabedoria!
Como de costume, eu nunca compartilhava os meus esquemas. Eles eram o fruto da minha síntese pessoal, das minhas lutas e da minha jornada com cada uma das disciplinas da graduação e do mestrado.
Isso é algo muito comum. Sem perceber, já nos encontramos procurando o tão desejado "caminho das pedras", como se houvesse uma fórmula mágica que pudesse substituir o esforço e a reflexão necessários para o verdadeiro aprendizado.
Nesse sentido, percebo, às vezes, essa tendência hoje nas redes sociais: antes de se dedicar à filosofia, você deve se tornar um Napoleão Mendes de Almeida na gramática; dominar plenamente A Arte da Lógica de João de Santo Tomás e possuir todas as técnicas retóricas de um Cícero ou de um Quintiliano.
Depois de anos dedicados ao Trivium, é então necessário enfrentar as disciplinas do Quadrivium: geometria, aritmética, astronomia e música — tanto em seus aspectos históricos quanto em suas aplicações contemporâneas. O problema é que cada uma dessas áreas contém material suficiente para uma vida inteira de estudos!
Outros, sendo mais realistas, escolhem uma dessas áreas como pré-requisito indispensável. “Sem um domínio sólido da linguagem, não se pode avançar na filosofia”, afirmam alguns. Outros evocam Platão: “Que ninguém entre aqui sem ser geômetra!”. Há também quem sustente que “sem um imaginário bem equipado, é impossível alcançar os conceitos abstratos da filosofia”.
Estamos, mais uma vez, buscando descobrir a receita mágica. Contudo, não existe um caminho pré-estabelecido, uma lista universal de livros a serem lidos ou uma relação fixa de disciplinas a serem vencidas.
Para Platão, a geometria e a aritmética foram fundamentais em seu percurso rumo à filosofia. Aristóteles, por sua vez, era, acima de tudo, um biólogo, embora não fosse ignorante em aritmética, cujas proporções numéricas ele utiliza em sua ética para explicar as relações de justiça. Santo Agostinho destacou-se como um renomado professor de Retórica no Império Romano. Já Wittgenstein encontrou a filosofia por meio da lógica.
Cada grande pensador trilhou seu próprio caminho, mostrando que não há uma única rota para se alcançar a filosofia. Sócrates é o caso mais emblemático desta verdade: ele sequer se preocupava com as palavras escritas. Nesse aspecto, ele nos ensina o que é verdadeiramente fundamental no caminho para a Sabedoria: refletir sobre as questões essenciais referentes ao mundo, ao homem e a Deus.
Nossa jornada em direção à Sabedoria está simbolizada no mito de Édipo diante da Esfinge: o único caminho é buscar respostas profundas para as grandes questões que as circunstâncias de nossa vida nos apresentam.
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